A quarta-feira foi de clima quente na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam). Com a presença de policiais militares na galeria, o Projeto de Lei 470/2021, que dispõe sobre ingresso que novos policiais por meio de concurso público, foi retirado de pauta e teve a votação adiada para a próxima semana, o que causou protestos por parte dos militares, aos brados de “Lei do ingresso hoje!”.
O deputado Wilker Barreto (sem partido) protestou contra o adiamento, alegando que teria acontecido uma interferência do comandante geral da Polícia Militar, Ayrton Norte, que esteve na Aleam conversando com deputados. Após a visita dele, o PL teria saído de pauta.
Wilker defende que o próximo concurso para a PM tenha 50% das vagas destinadas à bacharéis em direito, enquanto o restante das vagas sejam destinadas ao público em geral.
Troca de acusações
O parlamentar disse acreditar que quando a matéria voltasse ao plenário, estaria alterada a ponto de permitir que apenas os bacharéis disputem as vagas.
“Queria que se justificasse por que o projeto da Lei de ingresso saiu de pauta. Esse projeto foi construído entre oposição e governo. A retirada de pauta aconteceu em função de que o comandante da tropa veio aqui hoje dizer que [o concurso] tem que ser em função de bacharéis em direito”, disse.
A fala irritou a base do governo. O presidente da Aleam, Roberto Cidade (PV), chegou a dizer que Wilker estava apenas querendo “jogar para a torcida”.
“Eu não estou aqui para fazer show, jogar para a plateia. Eu estou aqui para resolver o problema. O deputado Wilker adora querer bancar o mocinho. Quero me comprometer com vocês que semana que vem iremos votar. Não temos como votar neste momentos porque o projeto tem uma série de falhas”, disse Cidade, antes de ser interrompido por vaias que vinham da galeria.
Retirada de pauta
Wilker voltou a rebater Cidade, tentando pressionar para que o projeto voltasse à pauta. “Quem pautou o projeto foi vossa excelência [Roberto Cidade], não fui eu. Se o projeto tivesse qualquer falha técnica, ele não poderia nem vir para a pauta”, disse.
Ao passo que Roberto cidade retucou, revelando que os parlamentares haviam conversado sobre o assunto antes da sessão, insinuando que Wilker estivesse revoltado com a retirada do projeto de pauta apenas pela presença dos militares.
“Não somos iguais, porque falei com você aqui e agora você está fazendo sacanagem, querendo aparecer para a população amazonense”, interrompeu cidade, ainda na fala de Wilker.
Dermilson Chagas, Saullo Viana, João Luiz, Carlinhos Bessa e outros parlamentares chegaram a se envolver na discussão, mas foi no momento em que o líder do governo, Felipe Souza, pediu a palavra, que a confusão ganhou novos contornos.
Intervenção governista
“Entendo que haja muita discussão sobre esse assunto, são vários os interesses da categoria, mas acredito que em uma semana não teremos prejuízo algum, pois ele vai voltar ao plenário sem nenhuma mudança”, ressaltou Felipe.
Ao ser questionado por Wilker Barreto o motivo de o projeto não ser votado imediatamente, visto que a expectativa da base é que ele retorne à discussão sem alterações, Felipe chegou a sugerir que o item voltasse à pauta.
“Faço aqui um pedido ao presidente Roberto, se ele quiser pautar agora, nós votamos”, disse o deputado, sucedido por uma comemoração efusiva dos militares presentes.
Mas nem o pedido do líder do governo e a pressão feita pela oposição pareciam o suficiente para fazer Roberto Cidade voltar atrás e devolver o PL à pauta.
Ao ser questionado por Dermilson Chagas se o projeto não seria votado, por conta do pedido de Felipe Souza, o presidente respondeu: “Não irá para votação. Eu sou o presidente e você sabe que quem pauta sou eu”, concluiu.
A ordem do dia se encerrou sem que o projeto fosse incluído na pauta de votação.