Em seu primeiro mandato no legislativo estadual, o deputado Roberto Cidade (PV) assume a cadeira mais cobiçada da Assembleia: a da presidência. A partir desta segunda-feira, 01, ele vai administrar um orçamento de R$ 350 milhões (o Poder Legislativo tem R$ 643 milhões do orçamento do Estado somando com o valor destinado ao TCE-AM) e uma reserva de R$ 40 milhões em “cofre”, segundo o presidente que sai, deputado Josué Neto (Patriotas).
Além de recursos financeiros, Cidade terá uma estrutura consistente, com centenas de funcionários efetivos e um número jamais informado de comissionados. Esse setor de pessoal, guardado a sete chaves, dá à presidência grande força de negociação envolvendo outros deputados e ampliando tentáculos com lideranças políticas em todo Estado. Traduzindo: ao nomear comissionados aparentados de prefeitos, ex-prefeitos, vereadores ou ex-vereadores… se garante votos futuros.
Carreira meteórica
O deputado Roberto Cidade chega à presidência num processo muito rápido em sua curta trajetória política. Em 2016, ficou como suplente ao cargo de vereador por Manaus e assumiu a vaga em 2018. Na Câmara Municipal, cumpriu um mandato sem grandes movimentos, mas capaz de catapultá-lo, no ano seguinte, o para a Assembleia Legislativa.
Esse caminho, no entanto, em muito foi construído com base no apoio de familiares de Roberto Cidade. O tio dele, Orlando Cidade, por exemplo, foi deputado de várias legislaturas e a família tem presença forte na Região do Madeira, por conta de negócios na área de transporte e em outros segmentos. Mais recentemente, a família avançou para Manacapuru, cidade em que tenta ganhar projeção.
Uma incógnita
Roberto Cidade carrega um discurso direitista e conservador. Cauteloso, quase não deu entrevistas e só nos últimos meses assumiu um tom mais incisivo, chegou a esboçar críticas ao governador Wilson Lima (PSC). Até então, ele sempre foi figura carimbada na base governista, tanto que votou pela rejeição do processo de impeachment do governador do Amazonas e do vice, Carlos Almeida Filho, ano passado.
Em meio a turbilhões de dúvidas quanto ao futuro do governador, que só na Assembleia Legislativa é alvo de treze pedidos de impeachment, Cidade assume num cenário aparentemente favorável, integrando um grupo que se rebelou e quer a degola política de Wilson Lima. É o tal grupo dos 16, que levou Cidade à presidência. Mas, nem tudo que parece é. E em política, essa máxima vale muito mais. Dentro do próprio grupo a pergunta é: Roberto Cidade vai se manter na oposição ou voltará para os braços do governo?