O Amazonas corre o risco de ter uma terceira onda da pandemia. Esse anúncio foi feito pelo doutorando do Instituto Nacional de Pesquisas do Amazonas (Inpa), pesquisador Lucas Ferrante. Mas, depois de dar o alerta, da tribuna da Assembleia Legislativa do Amazonas, o profissional teve as credenciais colocadas em xeque por internautas.
Nos comentários do vídeo publicado no canal do Manaus 360º, há afirmações como: “ele realmente não tem formação técnica que lhe autorize a falar sobre o assunto”; “não é competente para ditar política pública de saúde”. Por isso, convidamos Lucas Ferrante para uma entrevista. Confira:
Qual a sua formação?
Eu sou formado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Alfenas. Possuo Mestrado em Biologia (Ecologia) pelo INPA, o que já me confere uma formação para pesquisas cientificas. Além disso, estou finalizando meu doutorado em Biologia (Ecologia) também pelo INPA.
Recentemente, circulou nas redes sociais uma ‘nota oficial’ do INPA, de um ano atrás, negando que o senhor trabalha no Instituto. Ao Manaus 360º, a assessoria informou que o senhor tem uma bolsa e pode NÃO está proibido de dar entrevistas à imprensa. Qual a sua relação com o Inpa hoje?
Meu vínculo com o INPA se da tanto pelo programa de Biologia como outros dois MCTIS aos quais estou vinculado que fazem parte do INPA. O INPA tem apoiado, integralmente, as divulgações na mídia. Inclusive, me solicitando as entrevistas. O INPA também repassou o pedido de nota técnica que foi enviado por dois deputados à instituição e já enviamos o parecer a eles. As pessoas confundem um parecer institucional com o parecer dos cientistas envolvidos na pesquisa, o INPA não tem um parecer institucional, o parecer é dos cientistas e o INPA tem apoiado isso.
Fale mais sobre esse grupo de estudos que pesquisa a Covid-19. Quantos participam? De quais áreas de estudo são esses profissionais?
Nossos modelos são o resultado de pesquisa de uma equipe integrada com os maiores especialistas da área. Nossa equipe é multidisciplinar e composta por: um médico infectologista, o professor Dr. Unaí Tupinambás do departamento de medicina da UFMG; o maior modelista epidemiológico do Brasil, professor Dr. Luiz Henrique Duczmal; uma imunologista especialista em Betas-coronavírus, Dr. Ruth Vassão; o pesquisador do INPA e biólogo Philip Fearnside; além dos matemáticos e professores da UFAM Dr. Wilhelm Alexander Steinmetz; e Dr. Jeremias Leão; e o matemático da Universidade Federal de São João del-Rei, Dr. Alexandre Celestino Leite Almeida, que também é especialista em modelagem epidemiológica.
Porque entende que está credenciado a fazer análises e dar informações sobre a terceira onda da pandemia no Amazonas?
Possuo formação na área de biológicas e mestrado na área. Isso já me capacita, além disso, sou primeiro autor de trabalhos publicados sobre o coronavírus que foram publicados nos dois maiores periódicos científicos do mundo, as revistas Science e Nature. Nossas pesquisas e comentários têm passado pela revisão dos pares antes (cientistas que trabalham no mesmo campo) de ser publicado, atestando nossos resultados.
Como vê a desconfiança sobre a sua atuação nas pesquisas da pandemia, acredita que ser um biólogo é um fator que pesou nesse olhar de descrença?
Um biólogo tem toda a formação necessária para atuação nesta área. O problema é que as pessoas não compreendem como funciona a ciência e a vida acadêmica. Nossa sociedade tem pouca noção de como funciona a pesquisa científica e isso hoje gera o surgimento destes movimentos anticiência.
Por fim, o pesquisador, Lucas Ferrante, explica ao Manaus 360º a dinâmica dos pareceres das pesquisas. Ou seja, uma espécie de auditoria, revisão, do material publicado nos veículos dedicados à ciência. “Todo o parecer das nossas pesquisas é um parecer coletivo do nosso grupo e de todos os pesquisadores. Esse grupo contém um médico, uma imunologista, dois modelistas epidemiológicos, entre outros profissionais”, esclarece o pesquisador.
Ferrante acrescenta que cada um dos pesquisadores do grupo tem, pelo menos, um estudo sobre a COVID-19 publicado em periódicos científicos de renome, ou seja, especialistas na área aos olhos da comunidade cientifica. O próprio Lucas Ferrante é primeiro autor de duas publicações nos dois maiores periódicos científicos do mundo, as revistas Science e Nature, o que o torna um nome de referência para estudos da pandemia no Amazonas.