Mais de 50 mil adolescentes entre 16 e 17 anos tiraram o título de eleitor no Amazonas nos meses de janeiro e fevereiro, de acordo com dados do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-AM). Esse número representa 32,9% dos 155.741 amazonenses dentro desta faixa etária – segundo o IBGE -, portanto aptos a emitir o documento.
Em comparação com 2021, as emissões deste ano apresentaram um tímido aumento de 1,03%. Em 2020, quando também houve pleito, nos meses de janeiro e fevereiro, o número de emissões passou de 95 mil, 46% a mais que este ano. Para o TRE, as medidas de restrição que precisaram ser impostas para controle da pandemia de Covid-19, que limitou horários e número de pessoas atendidas por dia, têm uma responsabilidade direta na queda destes indicadores.
Até porque a nível nacional, este cenário se mostra uma tendência. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), até o momento, pouco mais de 830 mil jovens têm o título de eleitor em todo o Brasil, sendo este o menor índice já registrado desde o início do acompanhamento, há 30 anos.
Uma nova tela
Num mundo onde a atenção dos mais novos está constantemente divida entre tantas telas, a da urna eletrônica ainda consegue se destacar para alguns. É o caso da estudante Thamara Carvalho, 17, que está no terceiro ano do ensino médio. Ela ainda não decidiu se vai fazer engenharia civil ou arquitetura, mas tem certeza de uma coisa: vai tirar o título de eleitor e votar.
A influência veio de casa mesmo. Segundo Thamara, a irmã, Thalia, que é mais velha, há tempos fala sobre a importância de participar do processo político, usando o voto como ferramenta de transformação da sociedade.
“O que me motivou a sentir vontade de tirar o título de eleitor foi o fato de eu querer exercer o meu direito como cidadã. Desde pequena ouço a minha irmã mais velha falar sobre o quanto isso é importante. E por isso, pretendo votar nas eleições desse ano e fazer a diferença através do meu voto”, disse.
A estudante Adria Gonçalves segue a mesma linha de pensamento, enxergando a vontade de mudar a sociedade como motivação o suficiente para participar do processo eleitoral. Cursando o terceiro ano do ensino médio, ela quer cursar estética, mas num país melhor.
“Acho que a participação do jovem é fundamental. A presidência atual não está fazendo o país evoluir em nada e está cada vez sendo mais prejudicial a todos. Precisamos procurar algo melhor, e todos que estão com os olhos abertos e enxergando nossa situação precisam estar motivados para fazer o que for melhor para o país”, completou.
Famosos fazem campanha
Nas últimas semanas, Thamara, Adria e milhões de jovens brasileiros foram alcançados pela campanha promovida por famosos para que adolescentes de 16 e 17 anos, que não são obrigados a votar, tirem o título de eleitor e participem do pleito. O movimento ganhou força quando a cantora Anitta, recém-chegada ao primeiro lugar do top global no Spotify, o streaming de música mais popular do mundo, fez um tweet dizendo que os adolescentes que encontrassem ela por aí e pedissem por uma foto, só seriam atendidos caso mostrassem que já possuem o título de eleitor.
A campanha ganhou força e vários outros famosos aderiram, chegando ao TSE, que só entre os dias 14 e 18 deste mês, conseguiu, no Amazonas, emitir 2.419 títulos para adolescentes no Amazonas.
‘Sem tempo, irmão’
Só que apenas a campanha não é o suficiente para convencer alguns dos jovens. Sentindo-se invisíveis para a classe política, vários são aqueles que têm pouca ou nenhuma esperança de mudança através do voto, e vão deixando esse negócio de se preocupar com política pra depois.
O estudante Vinícius Alves, 16, por exemplo, acredita que o voto não deveria ser obrigatório mesmo após os 18 anos, e que as pessoas deveriam se sentir motivadas a participar do processo eleitoral por conta própria, e não por alguma sanção aplicada caso não vote. No segundo ano do ensino médio, ele está se decidindo sobre o caminho a seguir no ensino superior, considerando cursar direito, jornalismo ou cinema. O que ele não considera é a possibilidade de tirar o título de eleitor para votar este ano.
“Eu sinto que ainda não tenho uma opinião política formada, então não vejo por que tirar o título agora. É uma questão de liberdade de escolha. Ter a escolha de querer ou não votar, considerando que vivemos em uma democracia. Acredito que daqui a dois anos, quando eu tiver 18, dependendo dos candidatos que se apresentarem, eu terei uma ideia mais clara”, projetou.
Política de costas para os jovens
Para o socilógo e cientista político Carlos Santiago, Vinícius está longe de ser o único jovem a pensar desta forma. Ele explica que grande parte dos adolescentes se sente invisível para a classe política, e como nunca são colocados como protagonistas em políticas públicas, também não se veem na obrigação de participar ativamente do processo eleitoral.
“A ausência dos jovens no debate público do país fortalece o catequismo, a falta de inovação política e também indica falta de políticas públicas direcionadas ao jovem. O Brasil do presente e do futuro precisa de mais jovens participando das suas decisões de governos e também precisa de mais jovens discutindo política não só partidária, mas também política nos colégios, nas associações de moradores, em condomínios. Só se constrói uma sociedade melhor com a maior participação, principalmente de jovens”, destacou.
Como tirar o título de eleitor
O título de eleitor pode ser emitido nos cartórios eleitorais e também pela internet, no site do TSE, pelo sistema Título Net. O cadastro eleitoral deve ser feito até 150 dias antes de cada pleito. Durante esse período, as pessoas podem resolver pendências como a transferência de domicílio eleitoral e ausência de justificativa nas últimas eleições.