Pode soar inacreditável, mas nem é novidade que em meio à maior bacia hidrográfica do mundo, os manauaras enfrentam problemas de abastecimento de água. Essa adversidade é agravada pela desigualdade social, mas combatido, nos últimos anos, pela Águas de Manaus. A concessionária informa que implantou mais de 200 mil metros de novas tubulações para garantir que a água tratada chegue em locais como becos, palafitas e rip-raps e etc.
Um dos desafios da concessionária é adaptar as estruturas de abastecimento à geografia de uma cidade com mais da metade da população vivendo em aglomerados subnormais (termo técnico usado pelo IBGE para classificar ocupações irregulares como favelas, invasões, palafitas).
Crise nacional
Apesar de ser essencial para a vida humana, mais de 30 milhões de brasileiros não possuíam acesso à rede de abastecimento de água em 2021, segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). Só no Amazonas, são mais de 700 mil pessoas sem acesso à água potável.
O problema não é de hoje. Já no ano de 2000, quando o saneamento básico foi privatizado em Manaus, apenas cerca de 72% dos moradores da capital tinha acesso à água e 3% ao tratamento de esgoto, conforme dados da Agência Reguladora dos Serviços Públicos do Amazonas (antiga Arsam, atual Arsepam).
Problema é histórico
Em Manaus, os conflitos hídricos são históricos e afetam justamente a população mais carente da cidade. É o que explica a professora Edna Maria Castro, do Núcleo de Estudos Amazônicos (NAEA) da Universidade Federal do Pará (UFPA).
“O abastecimento de água em Manaus está diretamente relacionado à posição de classe social,
correspondendo também a uma geografia social, econômica, política e simbólica da presença ou
ausência do poder público no espaço urbano”, ressalta.
Ainda segundo a pesquisadora, a utilização de estratégias comunitárias como a instalação de poços artesianos e o uso de cisternas é comum em bairros periféricos de Manaus, sem acesso à rede de abastecimento.
“Os moradores dos bairros afetados pela carência de água em Manaus acabaram por experimentar diferentes estratégias para resolver os graves problemas de abastecimento, entre elas, o comércio informal de água. De todo modo, o certo é que não podem ficar sem água”, reforça.
Caso Beco Nonato
O beco Nonato é um retrato dessa realidade, área de palafitas no bairro da Cachoeirinha que recebeu, no início deste ano, a instalação de um sistema de esgotamento sanitário. Relatos de moradores apontam a diminuição de mau cheiro e de doenças após a implantação do esgoto.
“No começo, quando um morador não concordava com o serviço, mas ao ver que em outras áreas a obra estava acabando com o fedor, ele rapidamente autorizava a interligação com a nova rede de esgoto. Até os casos de diarreia e dor de barriga diminuíram entre os moradores, principalmente com as crianças”, conta Gisele Dantas, moradora do beco há mais de 40 anos.
Nos últimos anos, Manaus foi a capital do Norte que mais recebeu investimentos em saneamento básico, superando R$ 1 bilhão em recursos aplicados no setor. A capital também avançou 15 posições no Ranking do Saneamento, do Instituto Trata Brasil, saindo da 98ª para a 83ª colocação.
A Águas de Manaus informa que trabalha pela universalização do abastecimento. Além disso, realizar a cobertura de esgotamento sanitário da cidade, que cresceu 40% nos últimos anos, segundo a concessionária, chegando atualmente a 26% da capital. A Águas de Manaus também prevê que capital vai chegar a 45% de cobertura de esgotamento nos próximos dois anos e, em 2030, o serviço esteja universalizado.