- “Devo não nego, e não estou sozinho”. O ditado real é um pouco diferente, mas este pode ser perfeitamente aplicado aos amazonenses, ou melhor, a pouco mais da metade deles, que segundo o Serasa Experian, estão com negativados por causa de dívidas, fazendo o maior estado do país ser também o que tem mais gente com o nome sujo, considerando o proporcional populacional.
De acordo com o serviço de proteção ao crédito, 51,8% dos amazonenses têm algum tipo de dívida ativa, sendo este o maior percentual do país. Isso significa que a cada 10 pessoas que vivem no Amazonas, praticamente seis estão negativadas. O estado com menos endividados é o Piauí, com 33,6% de população devedora.
Para a economista Denise Kassama, o empobrecimento da população, ainda como um dos reflexos da pandemia e da recessão no país, acaba gerando uma cadeia de fatores que leva ao endividamento recorde.
“Vamos lembrar que o Amazonas foi um estado bastante prejudicado no processo da pandemia e por vários meses esteve entre os estados onde o desemprego ficou acima da média nacional. Tivemos a renda reduzida, um aumento da oferta de emprego, mas não dos valores nominais, porque estamos num processo inflacionário onde as coisas estão subindo astronomicamente. Temos um quadro onde as pessoas estão ganhando pouco e esse pouco mal dá para subsistir. Essa pessoa, em alguns casos desempregada, acaba entrando no cheque especial, ou paga apenas os juros rotativos do cartão de crédito, o que num cenário de juros altos, contribui muito para endividamento. A inadimplência recorde, é antes de tudo, um reflexo do empobrecimento da população”, enfatizou.
A conta chegou
Para o professor universitário e consultor econômico Mourão Junior, o endividamento dos amazonenses, assim como no restante do Brasil, é reflexo de escolhas políticas que vem sendo feitas nos últimos dez anos.
“Desde o governo Dilma, com a liberação de crédito para tentar aquecer a economia através do mercado interno e minimizar os efeitos da crise de 2008, muitas famílias se endividaram. Do governo Dilma pra frente tivemos um cenário de crescimento baixo e juros altos que é propício ao endividamento”, disse.
Educação financeira
A economista Mônica Damasceno aponta outros fatores como determinantes para endividamento da população: a falta de educação financeira, alta da inflação e alta da taxa de juros.
“Um dos principais problemas é a falta de educação financeira da população. As pessoas gastam mais do que ganham não fazem um orçamento, não fazem uma projeção para o futuro. Vivem como se não houvesse futuro e o futuro chega. Além disso, a inflação e a taxa de juros tem muito a ver com o cenário, porque com os juros altos, tudo fica mais caro. Se os preços sobem, o consumo reduz, a produção não aumenta, não se gera emprego e não se tem renda. Sem renda não existe consumo, e aí não há como pagar os compromissos. Tudo é uma cadeia”, exemplificou.
No Amazonas, o percentual de endividamento é superior em mais de dez pontos à média nacional, que é de 41%, e registra alta. No total, são mais de 66 milhões de pessoas com o nome sujo em todo o país, maior recorde desde o começo da série histórica da Serasa Experian, iniciada em 2016.