Se você não viu Carlos Almeida (PSDB) por aí, não estranhe. O vice-governador do Amazonas anda sumido de fato. Desde setembro de 2021, há quase quatro meses, o político não faz uma aparição pública. No último ano, ele apareceu muito pouco, e quando surgiu, foi pra expor as diferenças, hoje públicas, entre ele e o governador Wilson Lima (PSC).
Na eleição de 2018, Almeida contribuiu na chapa formada para a candidatura de Wilson com certa popularidade por conta de seu trabalho como defensor público. No Governo, chegou a ser colocado na Secretaria de Saúde (Ses) e posteriormente na chefia da Casa Civil.
Só que a relação com o governador desandou em 2020, ainda nos primeiros meses da pandemia de Covid-19. Depois de se demitir da Casa Civil, Almeida saiu do PRTB e foi para o PSDB, virando aliado do ex-prefeito Arthur Neto, adversário político de Wilson Lima.
Quando teve a chance de assumir o cargo de governador interinamente, demitiu o secretário de Estado da Segurança Pública, Louismar Bonates, ato revogado pelo governador Wilson Lima assim que voltou de viagem. Contrariado, o vice chegou a chamar o governador de “inimigo do Amazonas”, e desde então vem mantendo uma atitude mais low profile (discreto).
Utilidade do vice
Na prática, o vice não tem muitas atribuições, a não ser que assim seja designado ou busque por elas. É o que diz o professor Helso Ribeiro Filho, advogado e especialista em direito público, lembrando que na maioria das vezes, o cargo é utilizado para costurar alianças políticas.
“Tecnicamente, os vices, no nosso sistema presidencialista, têm uma função bem exígua. Ele está lá, de fato, para substituir o titular nas faltas, nas viagens, nas ausências, ou em caso de morte do titular. Os vices não têm uma função delimitada. Só que aqui no Brasil vigora o pluripartidarismo e há também, além de muitos partidos políticos, a possibilidade de coligações, então o vice acaba sendo, por via de regra, de partido distinto do titular, e serve para costurar alinhamentos de pessoas até antagônicas. Você muitas vezes dá um “cala a boca” para um partido deixando ele indicar o vice, ou privilegia uma coligação”, disse.
O professor Luiz Antônio Nascimento, que é sociólogo e cientista social, faz uma analogia com o futebol para exemplificar a importância do cargo de vice dentro do sistema político.
“Se a gente fosse fazer uma comparação com o futebol, o vice-governador é aquele cara que não está nem no banco de reservas. Dependendo de quem está no banco de reservas do adversário, por exemplo, um treinador pode modificar a estratégia para a aquela partida. Nos governos estaduais, a figura dos vice-governadores varia quase sempre entre ilustres desconhecidos e eventualmente conspiradores do governador de plantão. Muito raramente você tem vices que são “braços direitos” do governador, quase assessores especiais”, resume.
Sociólogo comenta sumiço
Para Luiz, Carlos Almeida, ao longo dos três anos da gestão Wilson Lima, até tentou, em alguns momentos, ser mais atuante, mas escollheu o pior caminho possível, que foi virar secretário do governo.
“Quando o Lula foi presidente, ele tinha como vice o José Alencar, que era alguém com quem ele conversava, que dialogava com setores que tinham mais dificuldade de conversar com petistas. Ele tinha funções. Tentou-se fazer isso num primeiro momento com o Carlos Almeida. Ele assumiu uma secretaria de governo, o que foi muito ruim. Dos cargos que ele estava assumindo, o pior deles é de secretário, porque este é o cara que fica lá dizendo “não”. Que refuta demandas do prefeito, do vereador, de lideranças sociais, então é bastante delicado. Fora tensões desnecessárias que foram criadas em setores com os quais ele se dava bem, além da chegada dele à Secretaria de Saúde, cujo o caos da pandemia ajudou a expor sua imagem e a queimá-la, não restando outra opção a não ser sair de cena, completou.
Helso Ribeiro Filho explica que divergências e até mesmo rompimentos entre governador e vice são normais, mas vale lembrar que todos os movimentos causam efeitos colaterais.
“Hoje não dá pra convidar Wilson Lima e Carlos Almeida para comer uma pizza juntos. Não sei nem qual foi a última vez que eles se viram. Um vice pode ajudar bastante. Muitas vezes, ele divide com o titular a administração, e às vezes existem brigas. Já houve casos do governador brigar com seu vice antes da posse, e aí o vice vira uma pedra no sapato do titular. São dois caminhos: um vice pode ser colocado de lado e aceitar ou passar a fazer uma oposição dentro do próprio governo”, ponderou.
Carlos Almeida está de olho em Brasília?
Nos bastidores, a principal especulação é de que Carlos Almeida esteja de olho numa vaga na Câmara Federal, e para isso, esteja dissociando lentamente sua imagem de Wilson Lima, para tentar aproveitar uma das correntes anti-governo que deve se estabelecer em 2022, com a corrida eleitoral. O Manaus360 tentou contato com o vice-governador, mas até o fechamento desta reportagem, não obeteve resposta.