Numa tarde quente de janeiro, dias após o réveillon, Manoela e o filho, Eduardo, de sete anos, entram numa loja de material escolar. O olhar infantil é atraído quase que de imediato por uma caixa de lápis de cor com o tema “Patrulha Canina”, uma das animações de maior sucesso entre as crianças, estrategicamente posicionada de uma forma que o pequeno estudante veja primeiro que a mãe e sinta o desejo de ter aquele objeto, em média três vezes mais caro que modelos que não são associados a qualquer personagem.
O telefone de Manoela toca. É Gustavo, o pai de Eduardo, dizendo que em outra livraria, perto dali, o giz de cera está mais caro, mas a cola de isopor está mais barata em comparação com a última loja onde os três foram juntos. A missão é ingrata, uma vez que a variação de preços é grande, mas o tempo para fazer uma pesquisa minuciosa, por conta da rotina agitada, é curto, assim como o dinheiro disponível após as extravagâncias das festas de final de ano e a enxurrada de impostos que janeiro traz.
Manoela e Gustavo ficam entre a cruz e a espada. De um lado, a necessidade de enxugar o orçamento numa vida de classe média baixa, pesquisando preços no pouco tempo livre que o casal tem. Do outro, uma lista prontinha feita pela escola de Eduardo, em parceria com alguma livraria. Um método muito mais cômodo, mas que cobra um preço alto pela facilidade que oferece, ultrapassando facilmente um salário mínimo, em média.
Realidade dura
Manoela e sua família são personagens fictícios, mas o drama vivido por eles é real —até demais— para milhões de brasileiros, que têm o material escolar como o grande vilão da vida financeira no começo de todos os anos. Com a inflação disparada, os pais precisam fazer um verdadeiro malabarismo para que o sangramento no bolso não se torne uma hemorragia.
A assessora de imprensa Larissa Pacheco, por exemplo, usa a tecnologia a seu favor para economizar. Mãe de um menino de seis anos, ela dá a dica de tentar fazer uma pesquisa virtual, não apenas para comparar preços, mas também para encontrar lojas que ofereçam vantagens e descontos, fugindo de marcas famosas ou produtos ligados a personagens.
“Uma coisa que eu faço é comprar livros no cartão de crédito, pelo site [da loja], que tem 10% de desconto, quando tem cupom. Vale a pena verificar nos sites da livrarias, principalmente se forem livros de coleção, que vendem juntos”, conta.
“Uma coisa que também faço é conferir junto ao Procon o que pode ou não ser cobrado na lista, e saber se o que foi solicitado de material pessoal condiz, até pq esse material fica com o aluno e às vezes são coisas que ele já tem em casa, tipo copo e toalha. Fora isso, a gente opta por materiais básicos, sem ser de personagens específicos”, detalha.
Sem pena da sola do sapato
Mas a pesquisa virtual não é a única forma de tentar economizar. Há quem use o meio mais tradicional: gastar a sola do sapato. É o caso da estudante de Direito Camila Lopes. Mãe de uma menina de 10 anos, ela opta por comprar o material escolar da filha no comércio do bairro onde mora.
“Quando vai chegando o final do ano eu aproveito quando vou comprar alguma coisa para ver como estão os preços de caderno, mochila e materiais em geral e anoto, pra saber onde está mais barato, aqui no bairro mesmo. Porque se for rodar de carro, aí já é um gasto a mais, por causa da gasolina. Pesquisando você percebe que existe sim uma variação de preços, mas tem que ter disposição”, completa.
No fim de dezembro, um levantamento do Procon constatou variação de até 900% nos valores de itens da lista de material escolar. O órgão realizou a pesquisa de preços de 57 produtos em dez estabelecimentos de Manaus.
Compra ‘fora de época’
O malabarismo para pagar menos é tanto que também tem quem tente pegar o mercado “desprevenido”. A empresária Aline Maquiné, por exemplo, mãe de dois adolescentes, renova o material dos filhos ao longo do ano, evitando fazer as compras em épocas consideradas quentes para esse setor da economia, como janeiro e julho, que marcam, respectivamente, o início do ano letivo e a volta do recesso escolar.
“Meus filhos estudam em escola pública e ainda assim a despesa é bem grande, fica em torno de R$ 600 a R$ 700 para cada um em material escolar por ano, entre mochila, cadernos, fardamento e outros materiais que eles precisam. O que eu faço é ir renovando o que eles precisam ao longo do ano, evitando comprar nessa época de volta às aulas e aproveitando o que eles já tem enquanto dá”, contou.
Escola não pode pedir de tudo
Larissa, Camila e Aline estão certas, e quem diz isso é o Instituto Estadual de Defesa do Consumidor (Procon-AM), que numa pesquisa de preços em 2021 chegou a apontar uma variação de 900%, dependendo do local onde o material escolar fosse comprado, em Manaus.
A lista mencionada por nossa primeira personagem, com materiais que não podem ser pedidos pelas escolas, foi divulgada no início deste ano. Confira:
- Álcool líquido e álcool em gel, inclusive quando destinado à higienização de objetos ou utilizado como forma de profilaxia
- Algodão
- Argila
- Balde de Praia
- Balões
- Bastão de cola quente
- Bolas de Sopro
- Brinquedo, exceto se solicitado em quantidade não superior a uma unidade por aluno; para uso em atividade que possibilite a socialização do educando, conforme previsão do plano de utilização dos materiais
- Caneta Hidrográfica Permanente (tipo Pincel)
- Caneta para Lousa
- Canudinho
- Carimbo
- Cartolina em Geral
- Cola em Geral
- Copos, pratos e talheres descartáveis
- Cordão
- Creme Dental, exceto quando utilizado pelo aluno em regime de exclusividade
- Pen Drives, Cartões de Memória ou outros produtos de mídia
- EVA.
- Elastex
- Envelopes
- Esponja para Pratos
- Estêncil a Álcool e Óleo
- Fantoche
- Feltro
- Fita Dupla Face 6
- Fita Durex em Geral
- Fita, toner ou cartucho para impressora
- Fitas Decorativas
- Fitilhos
- Flanela
- Garrafa para água, exceto quando de uso estritamente pessoal
- Gibi Infantil, exceto se solicitado em quantidade não superior a uma unidade por aluno; para uso em atividade que possibilite a socialização do educando, conforme previsão do plano de utilização dos materiais
- Giz Branco e Colorido
- Glitter
- Grampeador e Grampos
- Isopor
- Jogo Pedagógico, exceto se solicitado em quantidade não superior a uma unidade por aluno; para uso em atividade que possibilite a socialização do educando, conforme previsão do plano de utilização dos materiais
- Jogos em Geral, exceto se solicitado em quantidade não superior a uma unidade por aluno; para uso em atividade que possibilite a socialização do educando, conforme previsão do plano de utilização dos materiais
- Lã
- Lenços Descartáveis
- Lixa em Geral
- Marcador para Retroprojetor
- Massa de Modelar
- Material de Escritório sem uso Individual
- Material de Limpeza em Geral
- Medicamentos
- Palito de Churrasco
- Palito de Dente
- Palito de Picolé
- Papel em Geral, exceto papel ofício quando solicitado em quantidade não superior a uma resma por aluno
- Papel Higiênico
- Papel Ofício Colorido
- Pincel para Quadro Branco
- Pincel para Pintura, exceto se atendidas as seguintes condições: a) solicitação em quantidade não superior a uma unidade por aluno; e b) uso em atividade que possibilite a socialização do educando, conforme previsão do plano de utilização dos materiais
- Plásticos para Classificador
- Pregador de Roupas
- Purpurina
- Sacos plásticos
- Tintas em geral
- TNT
- Trincha