Em desespero, parte da população de Manaus-AM aglomerou-se e lotou supermercados e mercados atacadistas, no último dia 23. Essa gente foi comprar gêneros alimentícios e produtos de higiene, alguns aproveitaram para adquirir uma quantidade maior e estocar os produtos e dispor de tudo durante o “lockdown“.
E quem informou sobre o fechamento total do comércio foi um áudio que circulou nas mídias sociais. A voz masculina, sem nome, informou que na segunda-feira (25) se iniciaria um lockdown no Amazonas, por determinação do Governo do Estado. A medida seria para combater a segunda onda da pandemia do novo coronavírus.
Em nota, o Governo do Amazonas informou que o aviso era uma “Notícia Falsa” (fake news) e ressaltou que não haveria fechamento total dos supermercados e mercados atacadistas, apenas restrições de horário.
Logo, o caso da fake news que convenceu parte dos manauaras virou notícia nos meios de comunicação no Brasil. Isso porque chamou a atenção, o efeito da mentira na população relacionados à Covid-19.
É Fake News ou desinformação?
O termo fake news, se popularizou com sua tradução, notícia falsa, para determinar possíveis inverdades, boatos, fofocas que circulam e são compartilhadas com o uso massivo da internet, porém o termo correto utilizado no Direito Digital e no jornalismo para este tipo de ocorrência é “Desinformação”.
A notícia sempre deve ser verdadeira. O jornalismo busca, incansavelmente, comunicar a verdade e divulgá-la da melhor forma. Logo, o jornalismo e as notíciais não são falsas. Por isso, o correto é chamar de desinformação e não de fake news.
Mas, a desinformação também não é fofoca e nem boato. Esses sempre existiram na história da humanidade, mas a desinformação não! Ela é recente e amplificada pelo compartilhamento rápido através da internet.
A desinformação, ora atacada, ela é criada, pensada, premeditada, analisada como será disseminada. E, principalmente, a desinformação tem um target (alvo certo), que pode ser você leitor, pessoa física, pessoa jurídica, uma ideia, a ciência, são vários os alvos.
Há empresas e grupos de pessoas que, criminosamente, prestam esse serviço. Esses agentes atuam como se fossem algo parecido a uma empresa de marketing e publicidade, mas com o fim exclusivo de criar, repostar o conteúdo, pensar, determinar a melhor forma e canal para disseminar a desinformação. Além de analisar as métricas do resultado alcançado para mostrar aos clientes.
Como identificar e combater a desinformação
A desinformação pode ser fabricada para distorcer algum fato ou notícia que já existe. E, geralmente, apresentam algumas características, que valem serem verificada:
– Se há erro na ortografia e formatação do texto;
– Se utilizam sites falsos, e/ou sem credibilidade;
– Atenção também para a data da publicação;
– Às vezes, o título e subtítulo são diferentes do texto;
– É possível que o texto se apresente carregado de anúncios de ser algo urgente e chega a solicitar para você compartilhar rapidamente.
Você pode receber a desinformação através de vários aplicativos: e-mails; mensageiros como whatsapp, telegram, etc; facebook; twiter; e outros. E para combater ou não ser vítima da desinformação você deve:
- Antes de compartilhar ou curtir, não tenha pressa, analise se é verdade, pesquise em outros sites, se a informação é verdadeira. Na dúvida ou sem tempo para checar se é verdade, não compartilhe ou curta;
- Verificar se o site é verdadeiro e a reputação dele, a data da informação, se há erro de português;
- Leia todo o texto, e não só o título;
- Sempre desconfie de textos alarmistas, urgentes. Seja crítico;
- Verificar se não é humor, piada;
- Checar no site do Ministério da Saúde https://antigo.saude.gov.br/fakenews/ ou no número (61) 99333-8597 e na Secretaria Estadual de Saúde do seu e estado, a exemplo do Amazonas http://coronavirus.amazonas.am.gov.br/;
- Checar a informação nos sites de serviços de checagem, como por exemplo: do Fato ou fake https://g1.globo.com/fato-ou-fake/coronavirus/; da agência Lupa https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/ ;
- Denuncie a desinformação sobre novo coronavírus à Polícia Civil do seu Estado, como no Amazonas https://www.delegaciainterativa.am.gov.br/#/home ; e para a Polícia Federal.
Consequências e responsabilidades das desinformações sobre o novo coronavírus
Não seria somente por conta da conectividade, internet, robôs, algoritmos, mas também devido ao ser humano possuir emoções, o que gera revolta, surpresa e indignação com uma desinformação e o impulso é de compartilhá-la, sem nenhum cuidado.
Há no ser humano um sistema de crenças pré-estabelecidas e, assim, dão mais atenção a informações que confirmam aquilo já acreditam, dentro das suas bolhas. Isso faz parte da natureza humana, a psicologia social denomina de “viés de confirmação”. E para tentar combater esse forte viés cognitivo, a melhor maneira é conhecê-lo e sair da armadilha das crenças.
O estudo publicado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, confirma a ação humana: “concluiu que as desinformações se espalham 70% mais rápido que as verdadeiras e alcançam muito mais gente”.
Logo, atualmente, a desinformação se prolifera mais pela ação humana em compartilhá-la, do que somente pelo uso de robôs e algoritmos. Soma-se o fato de a saúde ser um assunto que move e comove a população, e circula como facilidade, o interesse é enorme.
Por causa do novo coronavírus, a população está ansiosa em saber mais sobre cuidados, a cura, vacina, e restrições determinados por governos municipais ou estaduais.
Acrescenta-se ainda o fato de falta de liderança, e da população não saber em quem acreditar, a desconfiança é grande nos gestores públicos e autoridades (sejam: Municipais, estaduais ou da União e dos Três poderes – executivo, legislativo e judiciário), e a todo momento surgirem ataques contra a ciência.
Agora saiba, que criar, compartilhar, e curtir desinformação causa responsabilidade, seja criminal, cível e administrativa. Já há várias decisões nesse sentido no Brasil, de responsabilizar os criadores, e de forma solidária com os que apenas compartilham ou curtem a desinformação.
No Congresso Nacional, há um Projeto de Lei das “fake news”, mas de conteúdo é polêmico e que não resolve o problema da desinformação no Brasil. O sistema legislativo que já vigora no país, possui instrumentos necessários para combater a desinformação, em diversas áreas.
Saiba que até deepfake são criadas, mas esse é um assunto para próxima coluna.
Espero ter ajudado vocês! Cuidado com a desinformação, não seja vítima ou autor.
Até a próxima semana.