Arthur Neto (sem partido) recebeu a equipe do M360 na chácara dele, localizada na Zona Oeste de Manaus, e conta que em breve quer começar a advogar, ao mesmo tempo, ele afirma que não “pendurou as chuteiras” da vida pública. Além de falar do futuro, Neto revela, pela primeira vez, um arrependimento do passado em um episódio da vida política que atingiu o atual vice-prefeito de Manaus, Marcos Rotta (MDB).
O ex-tucano é diplomata, sociólogo, advogado e político. Nesta última carreira, ocupou os cargos de ministro, no governo Fernando Henrique, senador da República e foi três vezes prefeito de Manaus.
Apesar de não ocupar nenhum cargo atualmente, como manda a etiqueta, o M360 se refere ao Arthur Neto como senador – mandato de maior relevância ocupado por ele até hoje.
Arrependimento político
“Eu fui muito mais pai do que líder”, pondera o senador ao relembrar da eleição “tampão” de 2018, para governo do Amazonas. Isso porque ele apoiou o próprio filho, o então deputado federal Arthur Bisneto para ser candidato a vice-governador na chapa liderada pelo senador Omar Aziz.
“O certo era eu ter apoiado o Marcos Rotta e nós teríamos vencido”, afirma. “E ele seria extremamente leal comigo. […] Cometi um erro com o Marcos Rotta que me dá vontade de aparecer na casa dele de repente um dia”, confessa Arthur Neto.
Entregou uma boa cidade para David Almeida?
Manaus colocou Arthur Neto no comando da cidade de 1989 a 1993, depois de vinte anos, em 2013, ele retorna ao cargo – como sucessor de Amazonino Mendes – e fica por duas gestões. “Peguei uma cidade desgovernada do plano fiscal e Manaus virou, dentro desses oito anos, a menina dos olhos da Secretaria do Tesouro nos governos Dilma (PT), Temer (MDB) e Bolsonaro (PL)”, avalia.
Entretanto, ele diz que não há como ter certeza que as conquistas fiscais vão durar, isso por conta dos diferentes gestores. Sem citar David Almeida (Avante) – para quem Arthur sustenta que entregou uma cidade economicamente saudável – Arthur diz que o gestor seguinte sempre precisa honrar as dívidas deixadas pelo antecessor para manter a cidade com o “nome limpo”, assim, vai poder adquirir empréstimos “que fazem sentido”, ressalta.
‘Não concordei com o impeachment da Dilma’
“Não concordei com o impeachment da Dilma. Por pedalada não. O que o Brasil tem de ciclista no governo do estado e federal, pessoas que não levam a sério a questão do ajuste fiscal”. Para Arthur Neto, o erro de Dilma foi não saber lidar com os parlamentares.
Apesar do posicionamento que Arthur Neto revela ao M360, em 2014, o então deputado federal Arthur Bisneto (PSDB) votou favorável ao impeachment da petista.
Na visão de Arthur Neto, mais tarde, Bolsonaro repete o mesmo equívoco da presidenta de não saber se relacionar com o Congresso Nacional. “Bolsonaro deixou Arthur Lira (PP) virar uma espécie de primeiro-ministro”, observa. “Se o Lula bobear, ele [Lira] vai virar primeiro-ministro de novo”, alerta diante das grandes chances de Lira retornar à cadeira de presidente da Câmara dos Deputados, uma vez que mais de 400 deputados prometem votar nele.
‘Lula gostou muito do dia 8 de janeiro’
Durante a entrevista, Arthur Neto se emociona ao relembrar dos relatos que ouviu no Uruguai em tempos de ditadura militar. Ele conta que foi ao país fronteiriço ao Brasil, junto a outros deputados federais, para ouvir os presos políticos. Sobre a ditadura militar brasileira, Arthur Neto diz “as torturas foram muito cruéis” e volta a se emocionar.
Ao trazer o assunto para a atualidade, uma vez que movimentos golpistas se fortaleceram em todo o Brasil com a derrota nas urnas do ex-presidente Jair Bolsonaro, Arthur acredita que os atos terroristas do dia 8 de janeiro, por exemplo, não representam um desejo de volta aos tempos de torturas, mas ele chama de “pura maluquice”.
“Conhecendo o Lula como eu conheço, ele queria isso [os atos terroristas do dia 8 de janeiro]. Lula gostou muito disso. Isso deu para ele o tempo político para ele continuar bailando por aí. Porque o governo do Lula, com a estreiteza de diferença de votos que a gente vê hoje em Senado e Câmara, a tendência é ele não ter “lua de mel” (período de maior prestígio do gestor que chega aprovado pelas urnas ao cargo de presidente da República)”, opina o político.
Terceiro lugar e saída do PSDB
Arthur Neto compreende que ele não perdeu o cargo ao Senado em 2022 para Omar Aziz (PSD) ou para Coronel Menezes (PL), mas sim para a polarização Lula versus Bolsonaro.
Sobre o PSDB, o senador se diz aliviado em não fazer mais parte da sigla. “Olhar a cara do Aécio [Neves] não é mole”, desabafa o ex-tucano. Quanto a um novo partido, Arthur Neto diz que ainda não sabe qual combinaria com estilo político dele, mas adianta que não pretende entrar para o PL – partido do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Para conferir a entrevista sem cortes – 2 horas de duração – clique aqui.
Colaborou Gabriel Veras e Beatriz Fonseca*