Todo mundo conhece alguém que já esteve num relacionamento onde a pessoa amada não se sentia inclinada a assumir o romance para o resto do mundo. Encontro? Só se for no cinema, de preferência lá no fundo da sala. Mãos dadas em público? Nem pensar! Fotinho nas redes sociais? Piorou! Essa falta de ligação acontece também na política, uma vez que em alguns casos é quase impossível descobrir o partido de determinados candidatos vendo apenas as redes sociais deles.
Elas, as redes sociais, ganham cada vez mais importância no processo eleitoral, e atualmente também são uma ferramenta para um primeiro contato do eleitor com o candidato. Você mesmo já deve ter visto alguma propaganda que chamou atenção e foi procurar pelo nome do candidato nas redes sociais.
À respeito da ligação entre partido e político, o que se espera é que uma pessoa que se filia a alguma legenda compactua minimamente com os preceitos defendidos por ela. Você consegue imaginar, por exemplo, o presidente Jair Bolsonaro filiado ao PT? E o ex-presidente Lula no PSDB?
Levando isso em consideração, o Manaus 360º fez uma pequena análise nos perfis de 65 políticos que estão concorrendo a algum cargo na eleição deste ano no Amazonas.
Foram considerados
- Vereadores de Manaus que estão concorrendo aos cargos de deputado estadual e federal
- Deputados estaduais e federais que tentam reeleição
- Todos os candidatos ao senado pelo Amazonas
- Todos os candidatos ao governo do Amazonas
A rede social analisada foi o Instagram, levando em consideração o que o eleitor consegue visualizar de primeira caso busque pelo candidato e se é fácil ou não identificar o partido do político analisando bio, foto de perfil e os três últimos posts publicados.
Parâmetros utilizados
Em destaque
Quando o candidato faz menção ao partido na bio, usa uma identidade visual semelhante a da sigla à qual pertence e o logotipo do partido é visto em pelo menos um dos três últimos posts publicados.
Na bio
Quando o candidato até cita que pertence a um partido na bio, mas sua identidade visual difere da utilizada pela legenda e não há qualquer outra menção à sigla nos três últimos posts publicados.
Menção discreta
Quando o partido não aparece na bio, mas aparece em pelo menos um dos três últimos posts publicados.
Não menciona
Quando o partido não aparece nem na bio do candidato e também não é citado nos últimos três posts publicados.
Resultado
No universo de 65 perfis analisados, o que representa cerca de 11% das candidaturas registradas até então, foi possível concluir que 46 candidatos, mais de 70%, não mencionaram ou mencionaram de forma discreta os partidos aos quais pertencem na rede social. Entre os perfis analisados, 28 (43%) não mencionam o partido em áreas privilegiadas da página ou dos posts, e em alguns casos, nem mesmo em posts um pouco mais antigos.
No total, 11 candidatos (17%) mencionam o partido na bio, mas se descolam da legenda em outras publicações. Um detalhe interessante aqui é que seis destes candidatos ostentam cargos dentro do partido ou por causa da sigla nas casas legislativas onde atuam, o que torna quase obrigatória uma menção à legenda em seus perfis.
Apenas 8 candidatos (12%) dão destaque ao partido em seus perfis, a ponto de o eleitor bater o olho e identificar de cara a qual legenda o político pertence. Confira os perfis que foram analisados em 18/08/2022:
Em destaque
– Diego Afonso (União Brasil)
– Nair Blair (Agir)
– Luiz Castro (PDT)
– Marília Freire (Psol)
– Marcelo Ramos (PSD)
– Zé Ricardo (PT)
– Capitão Alberto Neto (PL)
– Bosco Saraiva (Solidariedade)
Na bio
– David Reis (Avante)
– Lissandro Breval (Avante)
– Caio André (PSC)
– Dr. Eduardo Assis (Avante)
– Professora Jacqueline (União Brasil)
– Rosivaldo Cordovil (PSDB)
– Adjuto Afonso (União Brasil)
– Felipe Souza (Patriota)
– Wilson Lima (União Brasil)
– Bessa (Solidariedade)
– Silas Câmara (Republicanos)
Menção discreta
– Amom (Cidadania)
– João Carlos (Republicanos)
– Sassá da Construção Civil (PT)
– Capitão Carpê (Republicanos)
– Daniel Vasconcelos (PSC)
– Gilmar Nascimento (União Brasil)
– Jander Lobato (PSB)
– Kennedy Marques (PMN)
– Raiff Matos (Democracia Cristã)
– Alessandra Campelo (PSC)
– Cabo Maciel (PL)
– Dra Mayara (Republicanos)
– João Luiz (Republicanos)
– Roberto Cidade (União Brasil)
– Tony Medeiros (PL)
– Saullo Vianna (União Brasil)
– Carol Braz (PDT)
– Delegado Pablo (União Brasil)
Não menciona
– Marcel Alexandre (Avante)
– Marcelo Serafim (Avante)
– Rodrigo Guedes (Republicanos)
– Everton Assis (União Brasil)
– Joelson Silva (Patriota)
– Peixoto (Pros)
– Rosinaldo Bual (PMN)
– Wanderley Monteiro (Avante)
– Abdala Fraxe (Avante)
– Álvaro Campelo (PV)
– Carlinhos Bessa (PV)
– Delegado Péricles (PL)
– Dermilson Chagas (Republicanos)
– Joana Darc (União Brasil)
– Sinésio (PT)
– Therezinha Ruiz (PL)
– Wilker Barreto (Cidadania)
– Fausto Junior (União Brasil)
– Ricardo Nicolau (Cidadania)
– Amazonino Mendes (Cidadania)
– Eduardo Braga (MDB)
– Henrique Oliveira (Podemos)
– Arthur Neto (PSDB)
– Coronel Menezes (PL)
– Omar Aziz (PSD)
– Pastor Peter Miranda (Agir)
– Átila Lins (PSD)
– Sidney Leite (PSD)
*O candidato Israel Tuyuka (Psol) não possui perfil no Instagram
Mas por que esconder o partido?
Para o professor e cientista político Helso Ribeiro, boa parte dos políticos não querem ser vistos em público com o partido ao qual pertencem por pensarem as campanhas de maneira pessoal.
“Há no Brasil uma tradição de um certo personalismo na política. O que nós mais vemos é pouca afinidade ideológica. Pra presidente, governador ainda pode haver coligação, e há casos onde a raposa e a galinha acabam caindo na mesma. Então a gente vê que há pouca afinidade ao partido político e muita à busca eleitoreira lá pelo poder, gente escolhendo partido por causa do quociente eleitoral que ele proporciona”, disse.
Para o professor, o sistema de quociente eleitoral, onde o número de votos válidos direcionados aos partidos definem quantas cadeiras eles terão no legislativo, incentiva essa forma de entrar na política por mero interesse, sem que os preceitos defendidos pelos partidos importem para os candidatos.
“Na campanha é cada um por si e Deus contra todos. Os candidatos a deputado federal e estadual fazem campanha como se não tivessem partido. Eles querem voto! Um exemplo: o sujeito se candidata a deputado estadual e é do partido ‘X’. Ele não quer saber quem, no mesmo partido, são os candidatos ao governo, à presidência, a deputado federal. Ele quer que as pessoas votem nele para que ele seja, de preferência, o mais votado do partido. Aí não tem nenhum tipo de fidelidade, de ligação com a ideologia partidária. E nos cargos majoritários isso é pior, porque os candidatos não dependem de quociente eleitoral para vencer”, completou.
Ribeiro ressalta que para as próprias legendas também não há muito problema, o que fomenta a criação de novos partidos.
“Pequenos partidos, grandes negócios. Se eu e você conseguirmos fundar um partido, regularizarmos esse partido para concorrer, mesmo sem ter nenhum deputado, sem ter nada, nós receberíamos cerca de um milhão e meio de fundo eleitoral. Então é um belo negócio, né?”, conclui.