Os vereadores Rodrigo Guedes (Republicanos) e Gilmar Nascimento (sem partido) trocaram farpas na sessão da Câmara Municipal de Manaus (CMM) desta quarta-feira (21). Tudo começou quando Rodrigo, no pequeno expediente, afirmou que iria entrar na Justiça contra a ‘privatização’ do Centro Social Urbano (CSU) do Parque Dez de Novembro. O vereador disse que passou dois dias coletando provas e que teria a identidade ‘das pessoas que receberam os valores com a venda das barracas, do espaço do parquinho’ e da presença de ambulantes.
“O Centro Social Urbano foi privatizado de fato, sem nenhuma formalidade. A Prefeitura de Manaus deu verbalmente para um grupo de pessoas terem lucros milionários, explorando de todas as formas possíveis o espaço público. Não é grupo comunitário, não é associação de bairro. Ano passado foi uma instituição, que recebe inclusive emendas parlamentares”, disse.
O parlamentar destacou que encaminhará as provas ao Ministério Público do Amazonas (MPAM), as quais considerou ‘uma farta documentação de improbidade administrativa da Prefeitura de Manaus juntamente com essas pessoas’ que teriam se apossado da administração do CSU do Parque Dez. Guedes ainda acusou o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), de proteger o gestor do CSU, o qual, segundo Rodrigo, seria o responsável pela derrubada do muro para utilizar o local como estacionamento privativo.
Resposta
Mesmo sem ser citado, o vereador Gilmar Nascimento foi à tribuna rebater Rodrigo Guedes. O vereador iniciou sua fala destacando que nasceu e foi criado na área do Parque Dez e que sempre participou do Festival Folclórico realizado no Centro Social Urbano.
Gilmar afirmou que ‘só sabe o que é o evento quem realmente participa’ e que todos os eventos do CSU, bem como em outras áreas de Manaus, ‘há venda de barracas, de guloseimas. Isso é revertido, penso eu, para fazer a manutenção e o pagamento do festival’.
O vereador também pediu que Rodrigo Guedes fosse mais sensato ao falar de pessoas as quais ele não conhece, destacando que Rodrigo morou no Parque Dez por muito tempo, mas nunca o viu participar de nenhum evento, ‘e ninguém reclama disso’.
“Vossa excelência com certeza não sabe quanto custa uma barraca, uma estrutura, um banheiro químico, um palco, uma sonorização, vereador. E aqui não falo no sentido de litigar com vossa excelência, faço porque já fiz evento há muito tempo atrás. Hoje não faço, hoje eu apoio, mas de forma condicional, com prestação de contas. E uma coisa: eu nunca fiz uma emenda para fazer evento no festival”, disse.
Gilmar disse ainda que o festival do Parque Dez não tem nenhuma ajuda da Prefeitura de Manaus, exceto pela cessão do espaço. O vereador ainda alfinetou Rodrigo Guedes, afirmando que para ele ‘ninguém presta’.
“Vossa excelência tentou denegrir a imagem do vereador Amom. Vossa excelência colocou em descrédito o Tribunal de Justiça, o Tribunal de Contas. Pra você ninguém presta. Pra você, nenhum vereador presta, você é o único que presta nessa casa. Eu não sei que mundo você tem vivido, mano, que para você todo mundo é fétido. Existem pessoas boas, vereador Rodrigo Guedes, não é só você que é bom, o mais econômico. Não é você que é o exemplo fundamental”, esbravejou.
Nascimento afirmou ainda que Rodrigo Guedes teria ‘problema’ com o prefeito David Almeida e pediu para deixar o chefe do executivo em paz.
Nomes
Guedes rebateu Gilmar Nascimento afirmando que não havia citado seu nome, ‘mas parece que a carapuça serviu’. O parlamentar revelou, então, que uma das pessoas que recebe valores do Festival do CSU do Parque Dez se chama Syndean Barros Brasil Marques, assessor de Gilmar Nascimento na Câmara Municipal de Manaus.
Segundo Rodrigo, Syndean receberia, via PIX, R$ 2.200 dos barraqueiros que atuam no CSU. Guedes disse ainda que o coordenador do espaço, chamado Derval, teria fotos com Gilmar Nascimento e seria o responsável pela cobrança de estacionamento no Festival.
“Ali existe sim um grupo de pessoas que se apoderaram, com aquiescência da Prefeitura de Manaus, do Centro Social Urbano. Não é arraialzinho de bairro, como as comunidades organizam e prestam contas. Cadê a prestação de 2022, por exemplo? Cadê os valores de 2022 e 2023?”, questionou.
Guedes afirmou ainda que teria posse de uma nota de empenho de uma emenda parlamentar para a Arsenal Produções, uma das empresas que arrecadaria valores dos barraqueiros e do bar do Festival. O vereador também respondeu a Gilmar Nascimento que não se coloca como melhor do que ninguém.
“Falo das minhas ações como todos os vereadores falam das suas ações. Agora passar pano para a cruzeta que está acontecendo no Festival do CSU do Parque Dez? E agora eu tenho as provas. Nesse Festival o gasto é público, mas o lucro é privado”, disse.
Em tréplica, Gilmar Nascimento afirmou que Syndean Brasil é morador-fundador do Parque Dez de Novembro ‘e sempre participou da comissão de organização do festival, antes mesmo de ser meu assessor’. Sobre o coordenador do CSU, Gilmar afirmou que Derval é seu amigo de infância e que mora no local desde o início.
“Não busquei recurso nenhum na ManausCult para o festival. Não tenho emenda nenhuma no festival folclórico. Se a Arsenal tem emenda, é para resolver problemas em vários locais. Agora, eu não conheço o que a Arsenal tem ou deixa de ter. Eu não sou da coordenação do evento, eu apoio o evento há 42 anos participando e, desde 1999, eu apoio o evento. E o festival sempre prestou contas”, respondeu.
O vereador repetiu que Rodrigo Guedes não tem conhecimento profundo do evento, mas que não queria brigar com o colega porque nutriria carinho por ele, mas que faltaria sensatez ao parlamentar. Nascimento também trouxe à tona que a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) fez um evento no CSU recentemente e que a mãe de Guedes é conselheira do grupo.
“Eu acredito que ela é uma pessoa séria. Eu acredito que a Abrasel é séria. E a Abrasel fez evento lá dentro e cobrou barraca lá dentro, isso significa que tem privatização?”, concluiu.