Com o resultado do segundo turno, que consagrou o retorno de Lula (PT) à Presidência da República, uma série de protestos de teor golpista bloqueou rodovias em ao menos 25 estados brasileiros nesta segunda-feira (31). Em Manaus, um trecho da BR-174 (que liga o Amazonas ao estado de Roraima) foi interditado por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Em geral, as manifestações contestam o resultado das eleições gerais brasileiras nas quais a segurança e a transparência do processo eleitoral já foram amplamente comprovadas por órgãos de estado, independentes e por observadores internacionais.
Os protestantes, no entanto, dizem não aceitar a derrota de Bolsonaro. Até o momento, passadas mais de 24 horas desde a proclamação do resultado, o presidente ainda não se pronunciou sobre a eleição de Lula nem desautorizou o movimento golpista que se instalou em algumas estradas do país.
Na segunda, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou que o governo federal adote “todas as medidas necessárias e suficientes” para desmobilizar os bloqueios e desobstruir as estradas ocupadas por bolsonaristas. Na manhã desta terça-feira (1°), a decisão foi referendada pelo plenário do Supremo Tribunal Federal (STF).
Na avaliação do presidente do TSE, ministro Alexandre do Moraes, tem havido “omissão e inércia” da Polícia Rodoviária Federal (PRF) na desobstrução das vias.
Em Manaus, o tráfego foi reestabelecido na BR-174, mas o grupo segue protestando às margens da rodovia. Segundo a PRF, não houve confronto e nem detidos durante a operação. Já os bloqueios na BR 230, nos trechos de Humaitá e Manicoré, estão mantidos.
A vitória de Lula foi confirmada pela Justiça Eleitoral e reafirmada por diversas lideranças políticas nacionais e internacionais, retirando o apoio a qualquer contestação do resultado eleitoral. O petista recebeu o voto de mais de 60 milhões de eleitores e é o presidente mais votado da história brasileira.
Silêncio de Bolsonaro impulsiona protestos
Em nota conjunta, a Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (FenaPRF) e os sindicatos dos policiais rodoviários federais e todo país afirmam que o silêncio de Bolsonaro após as eleições impulsiona o movimento golpista.
“A postura do atual presidente da República, Jair Bolsonaro, em manter o silêncio e não reconhecer o resultado das urnas acaba dificultando a pacificação do país, estimulando uma parte de seus seguidores a adotarem ações de bloqueios nas estradas brasileiras”, diz a nota.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) classificou os protestos como inaceitáveis. “O respeito à soberania popular é primado básico da democracia. O direito de ir e vir não pode ser restringido por atos antidemocráticos”, defende o texto.
Já a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL) declarou que o movimento não é organizado pelos trabalhadores. “A pauta dos caminhoneiros não é política, mas econômica”, sintetiza a nota.
Com a decisão do TSE, a Polícia Rodoviária Federal disse à imprensa que desobstruiu 192 bloqueios até a manhã desta terça-feira.