A obrigatoriedade da vacinação infantil contra a Covid-19 para a matrícula na rede municipal de ensino vem servindo de pretexto para que parlamentares bolsonaristas acenem para uma claque consevadora. Nesta segunda-feira (7), Raiff Matos (DC) decidiu copiar a ideia dos deputados Delegado Péricles (PSL) e Fausto Júnior (PSL), e sugeriu proibir, desta vez com uma lei municipal, a obrigatoriedade do passaporte da vacina para matrícula nas escolas geridas pela Prefeitura de Manaus. Na tribuna, ele chegou a dizer que a obrigatoriedade resulta em segregação e bullying.
Ainda no Pequeno Expediente (espaço de breves comunicações e comentários), Raiff Matos utilizou falou em propor uma lei municipal que desobriga a apresentação do comprovante de vacina para a matrícula nas escolas da rede municipal. O parlamentar afirma que pais o procuraram por não quererem vacinar os filhos.
Pedido de esclarecimento
“Deus nos deu o livre arbítrio, o direito de escolha entre o bem o mal, o “sim” e o “não”, entre comer um feijão ou uma sopa. E temos garantido isso na Constituição. A liberdade de ir e vir, de estudar, de viajar. E eu vejo que a nossa liberdade tem sido, aos poucos, minada, por esse contexto que nós vivemos da vacina e da Covid. Me preocupa a fala do secretario municipal de educação, Pauderney Avelino. Várias pessoas me param na rua e me perguntam: ‘vereador, como vai ficar a minha família? Eu não quero vacinar meu filho’. Não ficou muito claro para a sociedade”, disse, anunciando que protocolou um requerimento convocando o secretário a prestar esclarecimentos.
Matos chegou a afirmar, inclusive, sem nenhuma evidência, que a obrigatoriedade da vacina causará segregação, bullying e danos psicológicos às crianças.
“Não podemos permitir que atitudes como essa permaneçam em nossa cidade com a desculpa de uma recomendação do Ministério Público do Estado que fala sobre a obrigatoriedade da vacina. A Prefeitura, o secretário, pega essa recomendação e impõe como lei na nossa cidade. Eu estarei entrando com um procedimento de controle administrativo com um pedido de emenda liminar no Conselho Nacional do Ministério Público, para que o MP-AM torne sem efeito essa recomendação que vai causar segregação na nossa sociedade, vai criar bullying nas crianças não vacinadas e vacinadas dentro das escolas de Manaus, vai criar efeitos psicológicos e vai destruir as crianças, os adolescentes”, esbravejou, da tribuna.
Fogo amigo
Só que Raiff, em seu discurso, ainda que indiretamente, criticou a Prefeitura de Manaus, da qual a grande maioria dos vereadores, incluindo ele, são aliados, o que acabou gerando críticas por parte de colegas.
O primeiro a se rebelar contra a fala de Matos foi o vereador Sassá da Construção Civil (PT), que apontou a postura do presidente Jair Bolsonaro (PL), que constantemente incentiva seus seguidores a desrespeitar medidas de isolamento e os desencoraja a tomar a vacina, influencie na decisão de alguns pais por não vacinarem seus filhos.
“Aí tem um presidente da República que diz a filha dele não toma vacina e tem gente que acompanha ele. Nós tomamos vacina para sobreviver. Vou dar o exemplo agora. Muita gente foi contaminada, mas pouca gente morreu ou foi internada, por causa da vacina. Aí ficam querendo colocar lei para não tomar vacina. A gente tem que acompanhar a medicina. Eu não sou médico, estou aqui para fazer leis e fiscalizar”, disse.
Na sequência, Professora Jacqueline (Podemos), ressaltou que sem a segurança da vacina, o retorno das aulas presenciais, que ela considera importante para melhores resultados dos alunos, fica inviável, defedendo que as crianças tenham sim que apresentar o comprovante de vacinação no ato da matrícula.
Sem vacina, sem retorno às aulas
“A gente tem que acreditar na ciência, porque se a gente não tivesse a vacina hoje quantas crianças não estariam com deficiências múltiplas por causa da poliomelite, por exemplo. O sarampo um tempo desses voltou e já está controlado novamente. Precisamos fazer o controle do vírus também, porque hoje temos, estatísticamente comprovado, que as pessoas que mais estão indo internadas e indo a óbito são exatamente as que não se vacinaram ou não completaram o esquema vacinal”, rebateu, sendo acompanha por Professor Samuel (PL), que reforçou o coro na mesma linha.
E não foi apenas a base do prefeito que foi contra a fala de Raiff Matos. O vereador Amom Mandel (sem partido), que é de oposição, se posicionou contra a proposta da criação da lei.
“É preciso levar em conta que a politização de qualquer tema que deveria ser discutido em nível técnico, só tem um resultado, que é ruim, que não é benéfico à população. Então venho rogar às senhoras e aos senhores que as discussões no âmbito da vacina sejam mantidas pelos órgãos técnicos sem o conhecimento de causa. Se for o caso, deveríamos convocar audiências públicas”, resumiu.