Um relatório, produzido pela subsecretaria de inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), aponta indícios de envolvimento da campanha de David Almeida (Avante), atual prefeito de Manaus, com membros de uma facção criminosa durante as eleições municipais de 2020.
O documento foi publicado em primeira mão pelo site Metrópoles, no sábado (22), e confirmado pela reportagem do Manaus 360°. Trata-se do relatório de pericia de um aparelho celular apreendido por policiais em posse de Lenon Oliveira do Carmo, conhecido como ‘Bileno’.
Segundo a polícia, Bileno seria um dos chefes da facção criminosa Comando Vermelho no Amazonas e, juntamente com outros atores, comandava boa parte do tráfico de drogas em Manaus. Ele foi morto em julho deste ano em uma operação policial.
Negociação
Dentre as mensagens extraídas do aparelho de Bileno, algumas mostram o diálogo dos representantes da facção com a campanha de David Almeida, então candidato à prefeitura de Manaus.
No dia 16 de setembro de 2020, cerca de dois meses antes do primeiro turno das eleições municipais, uma pessoa identificada como Alex e que, segundo a polícia, era um dos braços direitos de Bileno, disse que foi procurado por assessores de David Almeida em busca de apoio político.
Em contrapartida, os criminosos pediram R$ 70 mil, além da instalação de poços artesianos e o asfaltamento de ruas do bairro Francisca Mendes e das comunidades Coração de Mãe e Bairro da Fé.
Segundo os áudios extraídos pela polícia, uma reunião foi marcada na casa do candidato para discutir os detalhes do apoio à candidatura de David Almeida.
No dia 25 de setembro, Alex anuncia que fechou a parceria com a campanha de David Almeida. Segundo Alex, o candidato se comprometeu a doar manilhas (tubo de concreto), sacas de cimentos além de asfaltar ruas e instalar os poços solicitamos anteriormente.
Ao todo, os criminosos ofereciam de 15 a 30 mil votos, nas comunidades Bairro da Fé, Coração de Mãe, Bela Vista, Santa Inês, Pelezinho, Pista da Raquete e nos bairros Francisca Mendes, Puraquequara e Colônia Antônio Aleixo.
O documento aponta também para uma troca de mensagens supostamente feita pelo prefeito David Almeida diretamente para Alex.
Relatório
Datado de 4 de novembro de 2020, 11 dias antes do primeiro turno, o relatório não foi assinado por nenhum técnico da SSP. O documento também não indica as providências tomadas a partir dos dados colhidos.
“Por fim, frisa-se que este setor [de inteligência] não realizou qualquer juízo sobre as informações extraídas, limitando-se a extração dos dados anexos a este relatório”, explica o texto do próprio documento.
Em nota à imprensa, o prefeito David Almeida disse que desconhece o relatório e que vai pedir uma cópia do documento antes de se pronunciar.
“Estou indignado que um suposto relatório de 2020 só tenha sido vazado dois anos depois e, coincidentemente, a 9 dias do segundo turno das eleições para o Governo do Amazonas. Pedirei na Justiça a cópia desse relatório para que, então, possa me pronunciar. Desde já, repudio todas as afirmações que possam nos ligar a qualquer ato ilícito e buscarei a devida reparação cível e criminal contra qualquer exploração sem base em provas”, diz a nota.