O Manaus 360º entrevistou o médico Anoar Samad, titular da Secretaria de Saúde do Estado do Amazonas (SES) há pouco mais de um mês. Segundo ele, até agora, o estado não foi atingido pelas novas variantes da Covid-19, delta e lambda, e atribui essa proteção às vacinas. Por isso, preocupa-se em alertar “é preciso tomar a segunda dose”. Ele também respondeu que não tem medo de “cair”, apesar de ser o quarto secretário em três anos da gestão do governador Wilson Lima (PSC). E concluiu a entrevista declarando que , “corrupção é um problema ruim que é preciso acabar. […] Mas entenda que uma decisão ruim é muito pior”.
Quando chegou na Secretaria de Estado de Saúde (SES), o que achou era bom ou ruim?
Quando a gente vai assumir um cargo, a gente pensa em levar as nossas pessoas de confiança, não é isso? Sou bem prudente quanto a isso e tinha um pessoal reservado, mas cheguei aqui e vi o excelente corpo técnico. Vi a capacidade de quase todos, a vontade, a vibração, como eles gostam, como eles amam o que fazem. Então, isso me dá segurança e consegui me acalmar, diminuir a ansiedade pelo resultado. Hoje [30 dias depois], estou bem tranquilo.
Não foi a primeira vez que recebeu um convite para assumir a SES, por quê aceitou agora?
Acho que Deus coloca na vida da gente as coisas na hora certa. Em nenhum momento, pensei em ser secretário, mas quando o governador [do Amazonas, Wilson Lima] me chamou para conversar, me expôs como estava a situação, disse que eu seria o melhor nome da cidade para assumir a SES. Depois do primeiro contato, a negociação demorou uma semana, e eu senti o governador extremamente bem intencionado com a saúde. Assim, a coisa fluiu. Eu sempre disse a Deus, “se for melhor para a população e para mim, que o Senhor provenha”. Hoje, me sinto em família aqui [na Secretaria] e estamos trabalhando para que tudo avance.
Como é a transição de sair da rede privada para a rede pública e no principal cargo da saúde do estado Amazonas?
Seria estranho eu assumir a secretaria de produção rural, a de obras… mas a secretaria de saúde. Na verdade, ninguém trabalha sozinho, como eu disse, tenho assessores administrativos, assessores jurídicos, assessores técnicos, enfim. É mais a questão de saber gerir, gerir pessoas, gerir projetos, tomar decisões. Decisões precisam ser tomadas para alcançar um equilíbrio, por exemplo, entre você provocar mais agilidade, que nós temos na vida privada, dentro do serviço público sem ferir os preceitos legais.
O Amazonas, por enquanto, está livre da variante Delta?
Houve um surto no Peru e amanhã (sábado, 07) vou para lá. Foram equipes da SES, da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS), do Ministério da Saúde, da Organização Pan Americana da Saúde (OPAs) e eu estou indo vê como está na nossa fronteira. Porque se realmente houver algo, temos que tomar providências para tentar evitar que isso desça.
Na viagem, do secretário à Tabatinga e Benjamin Constant, no Alto Solimões se verificou que a pandemia está controlada do lado brasileiro. Apesar do alerta de surto em Islandia, município peruano. O número de casos reduziu e não há internações ou óbitos por Covid-19 em Benjamin Constant, nem em Tabatinga.
E em Manaus?
Aqui não tem nada, está super tranquilo. Claro que a vacinação foi o mais importante. Infelizmente, têm pessoas que não se vacinam. Têm pessoas que tomaram a primeira dose, mas que não tomaram a segunda dose. Com isso, agora estamos criando estratégias para incentivar as pessoas a tomarem a segunda dose, que é a arma que nós temos.
Dá para parar de se preocupar?
De jeito nenhum. É uma assombração. Não posso desligar de Covid-19, como? com qual critério? não existe. Então é controle epidemiológico. Acontece que o trânsito dentro do Brasil é livre e me parece que no Rio de Janeiro há um aumento da Delta. Vacina! Precisamos estimular todo mundo a tomar a segunda dose.
Por quê a saúde do Amazonas não adotou a redução do intervalo da aplicação da vacina da Pfizer como outros estados fizeram?
Para reduzir é preciso ter disponibilidade de vacinas. Por isso, depende muito da quantidade. Então você gasta o que tem no banco. E em vacina não tem jeito e gastar mais se não tem vacina.
Antes da sua chegada, três ex-secretários “caíram” da saúde do Governo do Amazonas. O senhor tem medo de ser o próximo a cair?
Não. Enquanto Deus está me dando a oportunidade disso aqui [levantou uma caneta com uma das mãos], isso tem um poder fantástico [se referindo à caneta]. Assim como salvei muitas vidas [no exercício da medicina], hoje consigo assinar contratos que vão resultar em 250 cirurgias ortopédicas por mês, assinei contratos que vão resultar em 125 cirurgias urológicas. Com esse poder, você consegue mudar a vida das pessoas. Sou responsável pela saúde pública de 4 milhões de pessoas.
Isso aqui para mim é uma missão, estou gostando desses desafios, são imensos, mas a vontade de vencê-los é maior ainda. Então não é uma coisa que me estressa ou me deixa aborrecido. Tenho o apoio total do governador [Wilson Lima], total. E se um dia eu tiver que sair da Secretaria, como vários já saíram, nenhum problema, mas sair sabendo que fiz parte disso. É normal que depois a gente seja questionado, depois se o TCE [Tribunal de Contas do Estado do Amazonas] perguntar porque eu assinei isso ou aquilo. Isso é normal para qualquer gestor e em qualquer pasta. Se eu conseguir os meus objetivos, de verdade, se depois acontecer de eu ter que responder por quê assinei o contrato tal, já valeu a pena. Quer dizer, corrupção é um problema ruim que é preciso bloquear, acabar. Lógico, qualquer gestor tem que fazer isso. Mas entenda que uma decisão ruim é muito pior.