Lá se vão mais de 100 anos que a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) dá sua parcela de colaboração para mudar o mundo por meio da educação. Assim, a instituição segue o que diz o filósofo brasileiro, Paulo Freire: “Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”. Entretanto, em 2021, a universidade não vai receber os mais de 2.500 calouros aprovados no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2020.
A quantidade, mais de 2.500, é baseada no total de aprovados em 2020, que alcançou 2.719 estudantes em todo o Amazonas. Esse número, no mínimo, pode ser multiplicado por três, levando-se em consideração que o acesso à Universidade é um sonho de família, que inclui mães, pais, irmãos, avós, tias. É uma meta adiada. É um sonho que está sendo paralisado!
Calendário fora da realidade
Isso porque, na pandemia o calendário acadêmico está atrasado em relação ao calendário civil. Ou seja, somente em janeiro de 2022 no “mundo real”, é que o calendário acadêmico da Ufam chega em 2021/1 e os estudantes aprovados no Enem de 2020 vão começar a estudar.
Segundo o pró-reitor de Ensino de Graduação, David Lopes, a universidade decidiu aderir ao Sisu 2021/2 para aqueles que tentam uma vaga terem a chance optar por outra instituição sem ter que esperar tanto. Assim, os estudantes que tentam ingressar no ensino superior não ficam presos à Ufam. Eles podem se inscrever em outras universidades que aderiram ao Sisu e têm vagas para o ano de 2021 tanto no calendário civil quanto no acadêmico. Isso, claro, se o estudante tiver condições de bancar o estudo em outro Estado.
Efeito cascata
Nada foi dito pela universidade sobre o “efeito cascata”. Quer dizer, ainda não se sabe quando começam as aulas na Ufam dos estudantes que farão o Enem em 2021 para entrar na universidade em 2022. Isso porque são os próximos calendários acadêmicos que vão definir o futuro dos períodos letivos da Universidade Federal do Amazonas.
Para completar o cenário fora do Ensino Superior em instituição pública, a Universidade Estadual do Amazonas (UEA) não adota o Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Uma vez que a UEA realiza os próprios processos seletivos.
Prejuízo
A estudante da faculdade de Ciências Contábeis da Ufam, Maria Eugênia da Costa, entendeu que precisa trocar de curso. Então, a graduanda fez o Enem para tentar uma vaga na Federal, mas, dessa vez para o curso de Direito.
Para Maria Eugênia da Costa, os mais prejudicados com as “portas fechadas” da universidade é “o pessoal que acabou de sair do Ensino Médio”. “Eles vão demorar mais a se inserir no mercado de trabalho devido essa decisão de colocar a entrada dos aprovados de 2020 para 2022”, explicou.
Quem vive uma situação semelhante é João Pedro da Silva. Ele ingressou no curso de Administração da Ufam em 2019, mas voltou “uma casa” para refazer o Enem porque quer estudar Engenharia de Software. Agora, vive um dilema: concluir o curso com o qual não se identificou ou abandonar a Administração no final para apostar no curso que deseja.
Sonhos para depois
“Eu não teria problemas em sair do curso de Administração agora, uma vez que estou no início. Em 2022, estarei no 5º período, faltando apenas 1 ano e meio para minha formatura”, esclareceu João Pedro da Silva. “Nesse estágio, o abandono do curso se torna inviável e isso só adia a realização do meu desejo de cursar Engenharia de Software”, acrescentou o estudante.
E Letícia Lima ainda não teve chance de ingressar na Ufam. “É realmente um sonho meu, um dos meus maiores objetivos”, diz ela sobre a universidade. Ao mesmo tempo, Lima, que concluiu o Ensino Médio ano passado, não aceita o que chamou de “pressão” para entrar no Ensino Superior. “Não vejo isso como um grande problema, ao contrário de alguns familiares. Tenho em mente que tudo tem seu tempo e se entrar só daqui a algum tempo for melhor, que assim seja”, se conforma Letícia Lima.
É preciso vacinar
O ex-senador do Amazonas, Arthur Neto (PSDB), comentou para o Manaus 360º sobre o atual cenário da universidade que leva o nome do pai dele. “Se precisa de um plano efetivo de enfrentamento da Covid-19 e, a partir daí, ter linhas seguras de retorno das atividades escolares, do comércio”, opinou. Arthur Neto também falou que a vacina é a “única alternativa para frear a pandemia”.
O político lamentou que “Infelizmente, o país caminha na contramão, reduzindo investimentos na ciência e em pesquisa e desenvolvimento”. Em seguida, ressalta que, “A Ufam precisa ser valorizada, se modernizar e se firmar com importante instituição de pesquisa do Brasil”. O que são objetivos altamente desafiadores para uma instituição cada vez mais burocrática e que, nos últimos anos, perde o protagonismo no Amazonas para outras instituições de ensino.