Grandes veículos da imprensa insistem em dizer “variante amazonense” ao se referir à nova cepa do novo coronavírus. Com isso, além dos mais de 300 mil casos de covid-19 que assolaram o Amazonas, a população tem lidado com outro problema: o preconceito. Por isso, o governador do Estado, Wilson Lima, contestou e adota o recomendado pela comunidade científica: “P.1”.
“Não é justo que o Brasil e o mundo fiquem batizando ou fazendo referência a essa variante como sendo do Amazonas ou de Manaus. Não é justo que o nosso povo continue sendo taxado por isso. O vírus não surgiu no Brasil, o vírus não surgiu no Amazonas e nem por isso as pessoas ficam taxando o vírus como sendo de um país, ou de cidade A, ou de cidade B. Então, não é justo que isso continue acontecendo com o nosso povo”.
Governador Wilson Lima (PSC).
Somado a isso, tanto as diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS) quanto da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), afirmam que usar localidades geográficas – ou seja, nomes de cidades, países, regiões e continentes – para denominar variantes virais não é apropriado e pode resultar em preconceito.
Não é do Amazonas
Cristiano Fernandes, diretor-presidente da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), reitera que as mutações acometem os vírus eventualmente. Além disso, Fernandes reforça que é preciso classificá-las com cuidado.
“A gente precisa desmistificar isso, não é uma variante do Amazonas, é uma variante que foi verificada, primariamente, no Amazonas. Tanto quanto as outras variantes do SARS-CoV-2, nós temos essa importância no sentido de ser um vírus que é transmitido diretamente de uma pessoa a outra”, ressaltou Fernandes.
Quem também concorda que é preciso acabar com expressão “variante amazonense”, é Jesem Orellana, epidemiologista na Fiocruz Amazônia. Segundo o pesquisador, não existe uma prova concreta que a nova cepa tenha origem no Amazonas ou mesmo em Manaus.
Nesse sentido, Orellana considera a má gestão do Poder Público e a negligência da população como a ”pior de todas as variantes”. ”Os cuidados são os mesmos e colocar a culpa pela tragédia em variante x ou y é no mínimo desonesto”, declara Orellana.
Equívocos com o termo “gripe espanhola”
Se estão taxando de “variante amazonense” no Brasil de 2021, em 1920 o mesmo aconteceu com o uso do termo “gripe espanhola”, como exemplifica a OMS. Mas, ao contrário do que o nome indica, não se sabe a real origem geográfica dessa gripe. Isso porque a doença, também viral, afetou, simultaneamente, a Europa, Ásia e América do Norte.
A OMS também “proíbe” dar nomes de pessoas; espécie ou classe de animal ou alimento para uma doença. E referências, culturais, populacionais, industriais ou ocupacionais também estão vetados. Assim como termos que incitam medo.
*Com informações da assessoria