Em 2021, o plenário da Câmara Municipal de Manaus (CMM) é confundido com um palco de calouros. Quem lançou moda foi Fernanda Aryel, filha do atual prefeito, David Almeida (Avante). Ela cantou uma música gospel logo no 1º de janeiro. Agora, um novato da Casa aposta em outra música gospel para soltar a voz, vereador Raiff Matos (DC).
Enquanto isso, o Amazonas teve um aumento de 34% em casos de violência doméstica na pandemia, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP-AM). Mas, no Dia Internacional da Mulher, 8 de março, os vereadores da Câmara Municipal de Manaus decidiram tratar do assunto com música e elogios como “lindas”, “maravilhosas”, em referência às vereadoras.
Depois da exibição de um vídeo institucional, o vereador Raiff Matos (DC) esqueceu os protocolos de uma sessão parlamentar. Isso porque, ele achou uma boa ideia homenagear as vereadoras e mulheres de Manaus. Para isso, o vereador ergueu a voz para cantar “Aos olhos do Pai”, música do grupo gospel Diante do Trono, e deu presentes às vereadoras Thaysa Lippy (PP), Yomara Lins (PRTB) e Glória Carratte (PL).
Discursos dos vereadores
Em seguida, David Reis (Avante), presidente da Câmara, abriu para que os vereadores homenageassem as mulheres da cidade. Então, não só Matos como outros vereadores perderam o tom, já que os parlamentes encheram as quatro vereadoras de elogios como “lindas’’, “maravilhosas’’ e “rosas”. No plenário, há apenas elas, quatro, “contra” 37 homens eleitos.
Os discursos deixaram de lado pautas como feminicídio. Isso porque o Brasil é o quinto país que mais mata mulheres no mundo, conforme mostra o Mapa da Violência elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Além disso, foram completamente ignorados temas como assédio e a situação de vulnerabilidade social e financeira que diversas mulheres enfrentam durante a pandemia do novo coronavírus.
Longe de ouvir a voz das reinvindicações de movimentos feministas, as vereadoras Carratte e Lins disseram que os “tempos são outros”. Glória Carrate chegou a dizer que a dificuldade para uma mulher se eleger é exatamente igual a de um homem.
“Eu confesso para vocês que eu cansei disso. Aquele discurso de 1900 e tanto de que as mulheres morreram queimadas e, gente, hoje a realidade é outra […]. Me perguntaram como é chegar ao poder e eu digo que é difícil, tanto para nós quanto para os homens. Nosso maior desafio aqui na Câmara Municipal é que mulher não vota em mulher. 70% dos meus leitores são homens e ainda existe o preconceito da mulher que não vota em mulher e que não vai em médica mulher, é triste isso”.
Glória Carratte, vereadora de Manaus.
Duas pautas afinadas com as mulheres
Durante a sessão plenária, do Dia Internacional da Mulher, apenas duas pautas tinham relação com as mulheres. Primeiramente, o Projeto de Lei (PL) do Professor Samuel (PL) tenta instituir o Prêmio Mulher Cidadã em Manaus.
Em seguida, o PL da vereadora Thaysa Lippy (PP), que prevê uma reserva de 5% das vagas de emprego de empresas que tenham contrato com o município sejam destinadas para mulheres vítimas de violência doméstica.
“Na pandemia cresceu ainda mais o número de mulheres denunciando situações de violência doméstica. Porém, muitas delas não conseguem sair de casa, pois dependem financeiramente do marido ou do companheiro. Temos que incentivar a oferta de vagas de trabalho a essas mulheres, assim como cursos profissionalizantes para que possam entrar no mercado de trabalho”.
Thaysa Lippy, vereadora pelo Partido Progressistas.
Ambas as propostas foram discutidas em plenário e encaminhadas à Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ), que analisa a legalidade das propostas. Depois, se aprovados, os projetos vão para outras comissões técnicas da Casa Legislativas e voltam ao plenário para serem votadas. Por último, são enviadas ao prefeito ou derrubadas em plenário.