Os vereadores de Manaus aprovaram, nesta quarta-feira (15), na última sessão do ano – mesmo com sete dias úteis antes do Natal e 11 antes do réveillon – uma moção de parabenização ao presidente Jair Bolsonaro pelo andamento da vacinação no Brasil.
O requerimento 297/2021 é de autoria do vereador Peixoto (PTC) e foi subscrito por nada menos que outros nove parlamentares. Foram eles: Jaildo Oliveira (PCdoB), Raiff Matos (DC), Marcel Alexandre (Podemos), Elan Alencar (Pros), Luís Mitoso (PTB), Yomara Lins (PRTB), Capitão Carpê (Republicanos), João Carlos (Republicanos) e Thaysa Lippi (PP).
Peixoto diz que o objetivo da moção é parabenizar o presidente pelo esforço em prol da vacinação no país.
“Desde o início do ano, com a segunda onda, o presidente esteve aqui em Manaus e o próprio Ministro da Saúde esteve aqui várias vezes. Hoje o Brasil está entre as quatro nações que mais vacinam no mundo. Por conta desse empenho do presidente Bolsonaro em trazer uma vacinação em massa ao nosso Estado e ao povo brasileiro eu gostaria de pedir aprovação dos nobres colegas a essa moção de parabenização”, disse em plenário.
Mesmo sendo da base do prefeito David Almeida (Avante) – outro bolsonarista -, o vereador Sassá da Construção Civil (PT) fez questão de registrar voto contrário à propositura e dizer o motivo.
“Respeito a opinião de cada um, mas não posso assinar uma moção dessa para um ser humano que não tomou a vacina. Como é que eu vou assinar uma moção agradecendo a ele, que foi contra vacina no começo. Então meu voto é contra”, disse Sassá.
Marcel Alexandre, advogado de Bolsonaro
Só que a discussão não foi longe. Marcel Alexandre até tentou defender o presidente com unhas e dentes, mas antes de começar a falar, foi alertado pelo presidente da sessão, Wallace Oliveira (Pros), de que o assunto não deveria se alongar.
“Negar a moção e querer manchar a história digna do presidente, que só ele comprou vacina e os demais embolsaram o dinheiro, não se sabe o que faz… Ah, pelo amor de Jesus Cristo. Tem que ter mais espírito cristão e democrático nesse negócio. Querer negar e sujar uma biografia porque quer impor uma ditadura de vacina… Ah, pelo amor de Deus. Todos os lados são lícitos. Digna moção pelo nosso presidente, pelo que ele fez. Colocou o país num lugar de honra”, concluiu Marcel Alexandre.
Presidente se destacou na pandemia por ser antivacina
Manaus viveu semanas de terror durante a segunda onda da Covid-19. O sistema de saúde da cidade entrou em colapso por falta de oxigênio e a CPI da Pandemia revelou posteriormente inclusive que foram feitos experimentos em humanos com Cloroquina, o remédio propagandeado por Bolsonaro como uma cura para a Covid, e que nunca teve eficácia comprovada.
Além disso, em meio a centenas de milhares de mortes por conta da doença, o presidente iniciou uma guerra com o governador de São Paulo, João Dória, que tentava adquirir doses de forma independente do Governo Federal. Na época, a estratégia adotada por Bolsonaro foi tentar desqualificar o imunizante, enquanto parte do mundo já vacinava.
Omissões do presidente Bolsonaro
A CPI da Pandemia, que no fim recomendou o indiciamento de Bolsonaro e de outros membros do Governo Federal, revelou também que o presidente chegou a ignorar, no final de 2020, portanto antes da segunda onda em Manaus, 53 e-mails da Pfizer oferecendo lotes de vacina que totalizariam mais de 70 milhões doses.
Fora as atitudes questionáveis que não estavam relacionadas diretamente a Manaus, mas que tiveram impacto em todo o país, como por exemplo, a troca constante de ministros da saúde. A pasta começou com Luiz Henrique Mandetta, que foi trocado por Nelson Teich durante o período mais agudo da pandemia no Brasil. Médicos, eles saíram rompidos com Bolsonaro acusando o presidente de implantar uma espécie de Ministério da Saúde paralelo para que fosse aplicado o que ele entendia como correto, ainda que as recomendações de órgãos de saúde dissessem o contrário.
O episódio mais recente é o clima de tensão que está instalado no Superior Tribunal Federal (STF) para a posse do mais novo ministro, André Mendonça, indicado por Bolsonaro, que acontecerá nesta quinta-feira (16), em Brasília. Tudo porque a corte está exigindo comprovante de vacina ou teste PCR negativo de quem for acompanhar a cerimônia. Bolsonaro não teria o primeiro e ainda alimenta uma série de embates com o judiciário.