Alguns dos vereadores de Manaus parecem estar vivendo um paradoxo. Ao mesmo tempo que se revoltam com os decretos recentes do presidente Jair Bolsonaro (PL) que tiram a competitividade do modelo Zona Franca de Manaus (ZFM), ameaçando diretamente os postos de trabalho gerados na capital, também não abrem mão de dizerem abertamente que são bolsonaristas e apoiam o presidente.
Nesta terça (3), o principal tema de pronunciamento dos parlamentares no grande expediente da Camarão Municipal de Manaus (CMM) foi os recentes decretos assinados por Bolsonaro, reduzindo o Imposto sobre Produtos e Serviços (IPI) e diminuindo a competitividade do modelo econômico.
Bate e afaga
Durante o pronunciamento do vereador Caio André (PSC), alguns parlamentares fizeram questão de demonstrar revolta, mas sem largar a mão do presidente. Luís Mitoso (PTB), foi um deles, levantando a responsabilidade de governos anteriores na situação da Zona Franca, batendo e afagando Bolsonaro ao mesmo tempo.
“Sou bolsonarista mas também defendo a minha cidade e sou contra o que estão fazendo. Mas os governos que passaram não tiveram capacidade técnica para gestar um ambiente aqui que nós não pudéssemos estar reféns da Zona Franca. Ela tinha prazo, aliás, ela tem prazo definido. Já fomos abençoados com a renovação desse prazo. E o que fizeram? Nada!”, disse.
Na devolução da palavra, o próprio Caio André fez questão de ressaltar seu apoio ao chefe do Executivo, apesar dos pesares, e engrossar a narrativa de que outros presidentes tiveram atos semelhantes, ainda que apenas Bolsonaro tenha assinado decretos que retiram diretamente a competitividade da Zona Franca.
“Como bolsonarista que também sou e votei no presidente, quero continuar apoiando as atitudes do presidente. Mas neste cerne, na questão da Zona Franca nós precisamos de uma preservação vinda do Governo Federal. Os ataques estão partido de lá. Há muitos e muitos anos a gente vem sentindo esses ataques e gostaria eu que o nosso presidente, o presidente que nós apoiamos não fizesse como os outros presidentes e também atacasse a Zona Franca de uma forma tão feroz como tem feito nos últimos decretos”, disse.
Todo mundo erra
Conhecido por ser um defensor dos animais, Kennedy Marques (PMN), fez uma intervenção para dizer que é de direita e que no caso de Bolsonaro, todo mundo erra.
“Nós não podemos ter dois lados. Não podemos acusar somente o atual governo, essa atual decisão, que eu sou contra, como todos cometem muitos erros na vida, políticos, econômicos, dentro de casa. E todo esse pessoal que ficou pra trás? Cruzaram os braços, ficou bacana, fizeram sua política e deixaram o Amazonas pra trás, dependendo de uma Zona Franca”, completou.
Já Eduardo Alfaia vive o paradoxo simples, dizendo que apoia o presidente, mas como amazonense, não tem como concordar com o desmonte da Zona Franca.
“Não há nenhuma amazonense, político ou não, que defenda os benefícios que estão sendo retirados do nosso Polo Industrial. Eu defendo, apoio, votei no presidente Bolsonaro, mas não concordo com o que está sendo feito com a nossa Zona Franca e acredito que todos os amazonenses manauaras também não concordam”, concluiu.